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Data da publicação: 09/01/2017

Para a reitora da PUC-Campinas, a aquisição de conhecimento e o processo de formação no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP foram muito sólidos, mas também prazerosos e estimulantes

Ângela fez iniciação científica com o professor Fernão Stella de
Rodrigues Germano, um dos professores pioneiros do ICMC, que também a
orientou no mestrado – Foto: Divulgação/PUC-Campinas

 

Ela ingressou no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, com a meta de se tornar professora de matemática. Ao longo do caminho, um novo curso nascia no Instituto: o Bacharelado em Ciências de Computação, que inicialmente era apenas uma ênfase para os estudantes que optavam pela matemática. A novidade atraiu a atenção daquela jovem para o que poderia se tornar a profissão do futuro e ela se apaixonou pela nova área, na qual se graduou em 1979. Passados 31 anos, Angela de Mendonça Engelbrecht se tornou a primeira mulher a tomar posse como Reitora da PUC-Campinas.

 Na entrevista a seguir, a professora, que está em sua segunda gestão à frente da reitoria da PUC-Campinas, revela detalhes de sua trajetória e o quanto o ICMC foi relevante em sua jornada.
 

Gostaria de compreender melhor os motivos que a levaram a fazer sua graduação e seu mestrado no ICMC. A senhora já conhecia o ICMC antes de estudar aqui? Lembra-se do primeiro dia em que esteve no Instituto? Quais foram as primeiras impressões?

Gostar de matemática, como gosto até hoje, foi o primeiro e o principal motivo da opção, assim como o objetivo, igual ao de tantos jovens, de ser professora. Morando em São Carlos, fiz cursinho no Centro Acadêmico Armando de Salles Oliveira (CAASO) e, nesse período de vestibular e decisão, conheci detalhes e características do ICMC suficientes para orientar minha escolha, da qual jamais me arrependi.

Quanto ao primeiro dia, provavelmente por conta ansiedade que marca o início da vida universitária, a memória não guardou detalhes. Mas lembro, ainda com a mesma intensidade, a emoção do início da vida universitária, incluindo a convivência com os colegas, o contato com docentes renomados e tudo o mais que compõe a vida acadêmica, que recordo com saudade e muita alegria.
 
 
Foi durante sua graduação em Matemática que a senhora se encantou pelas Ciências de Computação? Como foi essa decisão de migrar da Matemática para as Ciências de Computação, um curso que estava começando a ser criado no ICMC? Sua família a apoiou?
 
A força que a novidade exerce sobre os jovens e a influência dos colegas, mencionando a “profissão do futuro”, foram os fatores que mais pesaram na minha decisão de trocar a matemática pela computação. O gosto pela matemática, como já disse, sempre foi muito forte, mas a computação abriu novos horizontes e me tornei apaixonada pela área. Agradeço aos colegas que estimularam a decisão e também ao ICMC, oferecendo um curso bem estruturado, formando pessoas para um campo de atuação que, à época, ainda estava se consolidando.
O apoio da família esteve sempre presente, mesmo no momento em que abandonei o projeto mais tradicional de ser professora de matemática, para entrar em uma área que oferecia muitas opções, tanto no campo acadêmico de ensino e pesquisa, como no mundo empresarial.
 
 
Em que momento a senhora decidiu seguir carreira acadêmica e prosseguir seus estudos no mestrado? Como conheceu seu orientador, o professor Fernão Stella de Rodrigues Germano? Ele foi uma pessoa importante em sua jornada?
 
Costumo dizer aos meus alunos que a vida profissional depende, em parte, das nossas opções e escolhas, mas, em parte, também depende das oportunidades que se apresentam e cito meu caso como exemplo. Seguindo a tendência dos colegas, à medida que se aproximava a conclusão do curso, comecei a procurar colocação no mercado, encaminhando currículo para duas empresas de Campinas. Mas havia, também, uma vertente representada pelo mestrado e o fato de ter feito iniciação científica com o professor Fernão pesou muito na decisão, pois eu já conhecia suas qualidades como orientador e ele, por sua vez, me estimulou bastante.
 
Quanto à influência na minha formação como professora e no desenvolvimento de pesquisa, gosto de usar uma única palavra para dimensionar a importância do professor Fernão: fundamental. Docente e pesquisador que teve contato com os primeiros computadores que chegaram ao Brasil, o professor Fernão ensinava com sabedoria, orientava com segurança e eu aprendi muito com ele.
 
 
Em 31 de janeiro de 2010, a senhora se tornou a primeira mulher a tomar posse como Reitora da PUC-Campinas. Como se sentiu naquele momento? Quando a senhora iniciou sua trajetória como professora no Centro de Ciências Exatas, Ambientais e de Tecnologias da PUC-Campinas, em 1983, imaginava que um dia se tornaria Reitora da instituição?
 
Ainda estava fazendo mestrado quando ingressei na PUC-Campinas, realizando aquele projeto – e sonho – de ser professora, que vinha lá dos tempos do vestibular, com a computação ocupando o lugar da matemática. O envolvimento com a sala de aula e a finalização do mestrado não deixavam muito espaço para detalhar o futuro e eu me concentrei e me dediquei em consolidar a carreira acadêmica. Entretanto, a ligação com a PUC-Campinas foi crescendo e, de 1983 até 2010, exerci funções de gestão que contribuíram para meu amadurecimento profissional, tanto quanto para ampliar meu conhecimento sobre os aspectos funcionais e administrativos da Instituição. Ainda assim, não imaginava receber um convite para ser reitora, que chegou ao final da gestão em que fui vice-reitora. Evidentemente, fiquei honrada com essa prova de confiança e avaliação positiva do meu trabalho para um cargo de tanta responsabilidade.
 
Quanto ao fato de ser a primeira mulher a ocupar a reitoria na PUC-Campinas, não acredito que faça diferença na exigência de desempenho e necessidade de plena dedicação. Aprendi que, mesmo em universos com predominância quantitativa masculina, como é o caso da área de computação, a mulher pode se impor com igualdade de conhecimentos, trabalho e chances de sucesso.
 
 

Em 2010, Ângela se tornou a primeira mulher a tomar posse como
Reitora da PUC-Campinas – Foto: Divulgação/PUC-Campinas

 

De que forma a formação obtida no ICMC, as pessoas que conheceu e as oportunidades que surgiram aqui mudaram sua visão de mundo e a ajudaram a se tornar o que é hoje? Houve algum momento em que pensou em desistir?

Atualmente, o ICMC é uma unidade de grandes proporções, que já formou milhares de graduados, mestres e doutores. Mas eu tive a oportunidade de frequentar o Instituto ainda pequeno e, portanto, com uma convivência intensa e um alto grau de integração entre alunos, professores e funcionários. Esse ambiente de coleguismo, mais a elevada capacidade como instituição de ensino e pesquisa do ICMC responderam por momentos marcantes e significativos da minha vida, talvez os mais importantes. Para mim, a aquisição de conhecimento e o processo de formação no ICMC foram muito sólidos, mas também prazerosos e estimulantes. Cursar a universidade representa um divisor de águas na vida de qualquer pessoa, contribuindo muito para torná-la adulta responsável e indivíduo independente. Comigo, não foi diferente.
 
 
Quais são os principais desafios que a senhora enfrenta atualmente em sua segunda gestão como Reitora da PUC-Campinas? Estudar no ICMC contribuiu de forma significativa para enfrentar esses desafios de hoje?
 
Segundo mandato em cargo de gestão é, sempre, um período de avaliação detalhada e superação de realizações anteriores. A avaliação tem que ser intensa e sincera para que sejam detectados e trabalhados pontos que exigem mudança, visando à ampliação de resultados, assim como para que os pontos que estão funcionando a contento sejam consolidados e aprimorados. O gestor precisa desdobrar-se nessa dupla atuação e a melhor ferramenta para isso são equipes dedicadas e capacitadas a tomar medidas acertadas e que façam essas medidas funcionais e administrativas fluírem por toda Instituição, envolvendo todos os seus componentes. Assim, costumo dizer que a equipe que me acompanha na PUC-Campinas torna a gestão mais leve e unida.
 
 
Raquel de Mendonça Engelbrecht, sua filha, formou-se em Engenharia de Computação no ICMC. O fato da senhora ter estudado aqui a influenciou de alguma forma nessa decisão? Ao se tornar mãe de uma aluna e, posteriormente, de uma ex-aluna do Instituto, isso mudou de alguma forma sua relação, sua visão e opinião sobre a Instituição?
 
Não acredito que pais que tomam a decisão pelos filhos estão agindo corretamente, como também não acredito que agem corretamente aqueles que se omitem e não aconselham nem refletem junto com os filhos sobre decisões e escolhas. Considerando a proposta de que a virtude está sempre no meio termo, procurei informar minha filha sobre o ICMC a partir da minha própria experiência, mas a decisão final partiu dela mesma.
 
O resultado me deixou muito feliz, seja pelo fato da Raquel ser formada em uma área bastante promissora em termos profissionais e de realização pessoal, seja pelo fato dela ter optado pelo ICMC para essa formação. Além disso, o fato de já ser formada pelo mesmo Instituto e na mesma área que eu nos torna colegas, além de mãe, filha e amigas.
 
Enfim, a formatura da Raquel e o acompanhamento durante o tempo em que ela cursou computação somente confirmaram minha visão, minha opinião e minha avaliação sobre a importância da área e o valor do ICMC como formador de profissionais competentes e pessoas bem preparadas.
 
 
 Ingressantes da turma de Engenharia de Computação de 2003:
a filha de Ângela, Raquel, está no centro da foto, ao fundo, de
camiseta branca – Foto: Divulgação/ICMC-USP

 

 

Denise Casatti / Assessoria de Comunicação do ICMC

Leia mais no especial “Um instituto e suas infinitas histórias”: http://jornal.usp.br/especial/icmc/

 
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